Vivem dizendo que o meu problema, o seu problema, o problema da humanidade, é baixa auto-estima. A gente tem que se amar, se colocar em primeiro lugar, se considerar linda e maravilhosa para merecer tudo de bom que nos é destinado... mas que ainda não recebemos pois não atingimos este incrível grau de auto-confiança.
Eu discordo inteiramente. Nosso problema não é baixa auto-estima. É outro. Um pequeno dispositivo regulador de auto-estima, e que não é forte o suficiente para mantê-la lá em cima por muito tempo.
Quando saio de casa para trabalhar, me sinto altamente merecedora de tudo de melhor que possa haver no mundo. Escolho a melhor roupa, o melhor sapato, seco o cabelo com secador para ele ficar bem lisinho e com um caimento ótimo e ainda dou aquela olhada no espelho para confirmar que está tudo da melhor forma possível . Saio feliz, cheia de motivos para sorrir e cantar e com energia para fazer um excelente trabalho, estudar horrores, ler tudo o que for aproveitável nos livros, jornais e revistas e merecer aquele elogio de minha chefe.
Mas, basta colocar os pés na rua, para perceber que as coisas podem ser bem mais complicadas quando não se está sozinha no mundo. E que toda aquela beleza, inteligência e força de vontade não são suficientes quando se está em mundo que há muito mais super-heróis do que seres humanos.
E aí, não há dispositivo regulador de auto-estima capaz de mantê-la em um nível adequado. E a gente chega ao ponto em que, acreditam todos, precisamos ouvir aqueles conselhos fantásticos do comecinho do texto.
"- Escrever não é falar. - Não? Qual a diferença? - É exactamente o oposto. Escrever é usar as palavras que se guardam. Se tu falares de mais, já não escreves, porque não te resta nada para dizer". (No Teu Deserto, Miguel Sousa Tavares)
quarta-feira, maio 31, 2006
terça-feira, maio 30, 2006
Faxina geral
Há momentos na vida em que dá vontade de mudar tudo. Fosse eu uma casa, eu faria um faxina geral. Começaria tirando o lixo, aquilo que realmente não tem nenhuma utilidade nem valor afetivo, e que, além de ocupar espaço, ainda polui e torna o ambiente desagradável.
Depois, faria a limpeza propriamente dita. Tiraria a poeira, passaria pano no chão, lavaria a cozinha, o banheiro.
Depois eu ia arrumar tudo o que restou, organizar e, por fim, eu veria o que estava faltando.
Então eu partiria para as compras. Acrescentaria prateleiras e armários novos, colocaria um belo vaso de flores muito coloridas na sala. Na verdade, acho que colocaria muitas flores em todos os cômodos.
Depois de tudo isso, eu abriria a porta para que o sol entrasse e, sentada na varanda, deixaria que ele penetrasse em mim e me aquecesse muito. E de olhos fechados eu pediria, ao sentir o seu calor, que eu não permitisse, novamente, que o lixo se acumulasse em minha casa.
Depois, faria a limpeza propriamente dita. Tiraria a poeira, passaria pano no chão, lavaria a cozinha, o banheiro.
Depois eu ia arrumar tudo o que restou, organizar e, por fim, eu veria o que estava faltando.
Então eu partiria para as compras. Acrescentaria prateleiras e armários novos, colocaria um belo vaso de flores muito coloridas na sala. Na verdade, acho que colocaria muitas flores em todos os cômodos.
Depois de tudo isso, eu abriria a porta para que o sol entrasse e, sentada na varanda, deixaria que ele penetrasse em mim e me aquecesse muito. E de olhos fechados eu pediria, ao sentir o seu calor, que eu não permitisse, novamente, que o lixo se acumulasse em minha casa.
quinta-feira, maio 04, 2006
Celebrando o vazio
Estamos na época da ausência de regras, ausência de limites, vivemos na anarquia pessoal. Aprendemos que podemos comprar nossa felicidade e ela vem em forma de pequenas cápsulas coloridas, em forma de roupas e de tudo o mais que se possa adquirir com dinheiro, e somente com ele.
Vivemos preenchendo nosso vazio existencial mas agora podemos fazê-lo das mais variadas maneiras. A religião cedeu espaço ao nada, a família cedeu espaço ao nada, as responsabilidades não são mais cabíveis e os limites não nos servem mais.
As perguntas continuam sem respostas, mas agora são mais perguntas e menos possibilidade de pensar. Quando se celebra o vazio e se ri do sério, parece que para as dúvidas só resta a possibilidade da negação.
Vivemos preenchendo nosso vazio existencial mas agora podemos fazê-lo das mais variadas maneiras. A religião cedeu espaço ao nada, a família cedeu espaço ao nada, as responsabilidades não são mais cabíveis e os limites não nos servem mais.
As perguntas continuam sem respostas, mas agora são mais perguntas e menos possibilidade de pensar. Quando se celebra o vazio e se ri do sério, parece que para as dúvidas só resta a possibilidade da negação.
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