segunda-feira, fevereiro 22, 2010

A influência da TV

Esta noite eu sonhei com a novela. Até aí, nada demais. Não seria a primeira vez que isto acontece. Além disto, eu não seria a primeira que, além de acompanhá-la diariamente, dedica boa parte de seus pensamentos – ainda que noturnos – a lembrar e relembrar a trama.

O problema é que eu não assisto à novela. Desde que vim morar sozinha, há pouco mais de um mês, ainda não comprei uma televisão. O que ia ser um item primordial, o primeiro na lista da fase dois da montagem da casa (a fase um incluiu pintura, armários e cozinha completa), caiu diversas posições na lista de prioridades. Perdeu feio para a máquina de lavar (tenho certeza de que eu e ela seremos grandes amigas), para o sofá e para a cama. Chego a pensar se, depois que eu tiver tudo isto, ainda vou querer uma televisão.

Mas, mesmo assim, eu sonhei com a novela. Sonhei que a mãe da Luciana dava um berro ao descobrir que a Dora estava na cama com o Marcos. Sonhei que a Luciana corria pela praia aos prantos pensando em como a vida dela estava difícil (tá bom vai, só no meu sonho mesmo para uma tetraplégica correr pela praia…). Sonhei com diversas cenas de sexo entre Dora e Marcos que, pasmem, tinha um corpo bem familiar.

Eu sempre tive sonhos criativos. Meu namorado diz que meu sonhos são super-produções. Além de terem histórias malucas e complexas, há ainda a riqueza de detalhes e as cenas impecáveis. Há sonhos dos quais me lembro há muito tempo. Foram como novelas que assisti um dia, e das quais nunca me esqueci. A diferença é que das novelas eu me esqueço.

Se eu já estava questionando a necessidade de ter uma televisão antes disto, agora me pergunto ainda mais. Além de ter esquecido de fato prá que ela serve (pela internet eu acompanho as notícias, pelos meus sonhos eu acompanho – ou invento – a novela, Lost eu baixo pela internet e, o que mais passa mesmo?), ainda fiquei assustada com o poder de influência dela em minha vida. Normal sonhar com a novela quando você a assiste diversas vezes por semana. Mas quando uma novela que eu não assisto e não gosto rouba o espaço reservado para as minhas próprias histórias, aquelas que invento baseada na minha própria vivência, e não na vivência da Aline Moraes ou do José Wilker, sinto que algo está errado. Uma influência que, para mim, passou do limite e invadiu um dos últimos espaços onde ninguém conseguia anunciar. Aviso aos publicitários: Eu juro que se colocarem merchandising no meu próximo sonho eu vou cobrar. E caro.
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Há coisas que só a vida de quem mora sozinha faz por você. Exemplo? Acordar às 6h da manhã (ou melhor, às 5h, já que o horário de verão acabou de acabar), ligar o computador e escrever um texto pro blog, sem ninguém te perguntar o que foi, o que está escrevendo, porque já acordou, se não vai dormir mais etc etc… Ver o dia amanhecer da varanda e o céu de São Paulo passar de vermelho para azul também não foi nada mau. Para o meu dia ficar perfeito só faltava descobrir que o wireless do vizinho funciona perfeitamente aqui…

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Mar de livros

Às vésperas da viagem à praia, e vendo a pilha de livros a serem lidos diminuir, ela voltou a fuçar na biblioteca da mãe. Doce lembrança da infância, que espera nunca deixar para trás. Alguns livros foram lidos quando pequena, na mesma casa de praia que a espera agora. Outros estão na fila há muito anos, representando os sonhos que têm em comum a menina e a mulher, mesmo às vésperas dos 29 anos. 29 anos que irá comemorar como no costume de criança. Na praia com a mãe.

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Perda

A gente sabe que as pessoas vão e vêm.
Nascer é azul e rosa bebê. Tem bexigas, flores, presentes e chocolates.
Morrer é cinza. É tabu. Nele, ou não se fala, ou se inventa. A gente crê que seja céu, que seja azul. Mas falar, pensar, esperar, ah, isto ninguém quer.
Quantas pessoas já passaram pela sua vida? Por que não ficam? Mortas no mesmo mundo, viraram sombras daquilo que foram. Deixaram marcas.
De quantas pessoas, que nem sabem meu nome, que nunca se lembrarão de mim, eu ainda me lembro?
Ficaria feliz se, ao menos uma, de quem eu não me lembre, em mim pensasse agora.
Este texto me faz lembrar Luísa. Minha melhor amiga de infância. Talvez tenha durado meses, poderiam ter sido dias. Mas ali, naquele círculo amarelo, onde esperávamos a professora nos buscar, eu acreditei que seria prá sempre. Hoje vejo que de fato é. Luisa foi uma das primeras a passar, a ir embora. Tantas outras vieram. Triste pensar que quem está aqui hoje, amanhã não mais estará.
De fato, o vazio dói. A ausência machuca. O incompleto faz lembrar quem foi, e temer pelo dia em que você também irá.