quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Revirando gavetas

Revirar gavetas é uma atividade prazerosa. É um momento de encontro consigo mesmo, com o que se foi, o que se é, e o que se pretende ser. A gaveta é onde o passado, o presente e o futuro se encontram.
E é revirando gavetas que se descobre que antes, durante e depois, somos os mesmos. Nós podemos evoluir na vida, melhorar, mas não mudamos nunca.


Nossa essência permanece e saber utilizá-la da melhor forma possível é a chave da felicidade. Pois temos de ser felizes sendo quem somos, e não criando personagens. Porque não podemos fugir de nossa personalidade e este fato ao mesmo tempo que aprisiona, liberta.

Aprisiona pois nos faz ter que aceitar muitas coisas, admirar muitas características que gostaríamos de ter, porém sem conseguir alcançá-las.
Liberta pois nos ensina que não precisamos nos preocupar em ser assim ou assado, apenas precisamos aceitar que existimos e que somos únicos, e que é possível administrar uma personalidade de maneira a ser feliz.

Ser quem se é é ter a certeza de que os dias podem passar, nós podemos sofrer horrores, passar por alegrias imensas, cair, levantar, rir, chorar... mas nunca perderemos nossa essência.

Revirar gavetas, memórias, lembranças, é perceber que podemos mudar o curso do rio diversas vezes, pois no final ele vai, irremediavelmente, se encontrar com o mar, e nada terá sido em vão.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

A confusão das épocas

O tempo passa rápido. A vida, todos sabem, acaba. E, como é de conhecimento público, a solução é viver cada momento intensamente, pois eles são passageiros.

Mas, e quando a vida passa tão rápido que já não se sabe em que época está? Às vezes, pessoas bem resolvidas, normais até, encontram-se perdidas em fases para as quais não encontram classificação. E, quem não teve crise de adolescência, acaba vivendo outras crises quando menos esperava ter que passar por isso.

A confusão aumenta quando se leva em conta o troca-troca que existe hoje em dia. Os jovens querem ser adultos. Não existem mais meninas de 13, 14 anos, e sim mulherões sexys e cheias de pose. Basta dar uma espiada em álbuns no Orkut para ver que não se diferencia mais uma adolescente de uma adulta. E isto não é novidade.

Mulheres adultas também estão em extinção. Aos 40 anos, todas querem ser “tias gatinhas”: saradas, calça jeans apertada, chapinha no cabelo e... prontas para irem à balada junto com as filhas de 14.

Ao mesmo tempo que se exige maturidade dos jovens, se impõe comportamentos descontraídos aos adultos, fazendo com que a adolescência dure muito mais.

E o que fazer quando se chega aos 25? Ser jovem e descontraída ou encarnar a jovem executiva bem sucedida? Usar a roupa da moda para adolescentes crescidinhas, ou assumir que a idade adulta chegou e se tornar uma pessoa séria e respeitável? A resposta é só uma, porém a mais difícil possível: seja todas, e seja você. Pratique diariamente o exercício da mudança, mas não perca sua personalidade. Fácil, né?

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Mais do mesmo

Mais do mesmo é viver. Mais do mesmo é começar uma novela todos os dias sabendo exatamente como será o fim da história. (Antes que surjam mensagens de otimismo e força, veja, isso não é uma reclamação)
Encarar os fatos é o caminho para poder extrair deles o que há de melhor. Encarar que a vida é uma repetição é uma forma de não se assustar quando o tédio surgir no meio da tarde e não achar que o problema é com você, ou com o seu trabalho, ou com o seu relacionamento.

Fácil! Como o problema não está comigo, nem com meu emprego, nem com meu namorado, a gente conclui que só pode estar ... com o meu cabelo, com o guarda-roupa, com a balança... e mudo tudo. Emagrecer, engordar, comprar roupas mais modernas, mais sofisticadas, mais clássicas. Parecer mais adulta, mais jovem, e o final será feliz...

Quem nunca caiu nestas armadilhas da vida? Quem nunca colocou a culpa no sistema capitalista? Quem nunca se rendeu a ele e viveu intensamente um surto consumista? Quem nunca sentiu que isto pode resolver tudo e que aquelas compras recém-feitas podem lhe fazer feliz para sempre?
Mas as roupas ficam velhas, ou novíssimas e esquecidas no fundo do armário. E a gente engorda de novo.

E descobre, mais uma vez, que a repetição é a comprovação de se estar vivo, e que mesmo estando no mar transparente sob o sol acolhedor de alguma praia paradisíaca ainda seria entediante se o fizéssemos todos os dias.

E que ser feliz é ter a capacidade de se reinventar, mas também de sentir prazer na rotina, e não esperar as férias para sorrir.