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Este ano a sensação de fim de ano chegou mais cedo para mim. Em meados de outubro, o balanço de fim de ano já tinha sido concluído, com a devida sensação de rebarbas a aparar, e de tudo que precisava ser resolvido para que um novo ciclo pudesse se iniciar em terreno limpo e fértil.
Em novembro, tudo parecia caminhar bem, até que em dezembro algo saiu do trilho e tudo o que poderia dar errado deu, tudo que parecia caminhar para uma realização virou frustração, tudo o que já estava definido se indefiniu inesperadamente e as reações e atitudes foram as menos aguardadas, com os respectivos questionamentos respondidos das maneiras mais inacreditáveis, e a tristeza chegou para ocupar seu lugar quando só esperava estar triste novamente lá para junho do ano que viria...
Talvez por tudo isso, a leve melancolia natalina, que nunca precisou ser triste, tomou uma proporção de questionamento muito maior. A árvore do Ibirapuera, as canções natalinas em inglês, o enfeite gigante do Shopping Iguatemi, as cores do Banco Real, iluminaram a sensação de vazio diante de tanta miséria, de tanta fome, de tanta falta de oportunidade.
E por vezes tive vontade de ser uma criança de rua, só para poder destruir tudo durante a noite, e tirar de perto de mim a visão da falsidade ideológica que tomou conta de uma festa que deveria ser de amizade e colaboração.
Quem foi que permitiu que a data de nascimento do maior messias que já existiu virasse pretexto para movimentar o comércio, por que permitir que vermelho da Coca-Cola se espalhasse pelas ruas de um país como o Brasil, onde a seca mata milhares de pessoas de sede, onde está a igreja que não diz ao povo que esta é a maior mentira em que se pode acreditar... e não questiona o ridículo do ser-humano?
Eu não tenho vontade de comprar presentes de Natal... eu queria dar a todos que amo um trecho da Bíblia, que falasse sobre igualdade e sobre fraternidade, e que falasse sobre simplicidade e humildade.
E que mostrasse, sobretudo, a imagem de um presépio, provando que, quando de onde deveria vir acolhimento, surge somente incompreensão, arrogância, pretensão e injustiça, é de onde menos se espera que surge carinho e aquele abraço, aquele sorriso e aquela palavra que a gente simplesmente morreria se não pudesse sentir...