quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Loucura 10 X Normalidade 0

Eu me lembro do comecinho da faculdade de jornalismo, um dos primeiros dias de aula, quando um dos futuros profissionais mais “engajados” da classe (daqueles que têm devoção por Chico, são de esquerda, fumam maconha e odeiam assessoria de imprensa), começou a cantalorar o que, segundo ele, seria a música da nossa formatura: “Se eu sou muito louco, por eu sei assim, mais louco é quem me diz, e não é feliz, não é feliz...”

Naquele momento, início de 1999, todos com seus 17, 18, 19 anos, a Balada do Louco, dos Mutantes, parecia resumir tudo o que éramos e que seríamos, e ser louco era sinônimo de tantas outras coisas como ser engajado, ser culto, ser inteligente... ser jovem idealista e ser jornalista.

Naquela época, a atitude determinada de quem já sabia qual música deveria ser tocada dentro de quatro anos, como quem sabe o que será, pois não anseia a mudança e a evolução, já me pareceu um tanto arrogante.

Ao longo dos quatro anos, a pretensão de 160 adolescentes que queriam se destacar sendo mais loucos dos que os outros se tornou mais e mais insuportável, e ser normal passou a ser um prazer e um objetivo.

Oito anos se passaram... a loucura deu lugar à normalidade e a normalidade à loucura, e hoje, sem perceber ou fazer qualquer relação com o passado, percebi que a música que me define em meu perfil do orkut é a Balada do Louco...

E aos 26 anos, indo para o meu emprego em assessoria de imprensa de uma agência de publicidade, ouvia Raul Seixas no carro quando percebi que só quer ser louco quem é muito normal, assim como não há um normal que não tenha um tanto de loucura dentro de si...

“...Vai pro seu trabalho todo dia
Sem saber se é bom ou se é ruim
Quando quer chorar vai ao banheiro
Pedro as coisas não são bem assim...

Toda vez que eu sinto o paraíso
Ou me queimo torto no inferno
Eu penso em você meu pobre amigo
Que só usa sempre o mesmo terno...

Tente me ensinar das tuas coisas
Que a vida é séria, e a guerra é dura
Mas se não puder, cale essa boca, Pedro
E deixa eu viver minha loucura...

Lembro, Pedro, aqueles velhos dias
Quando os dois pensavam sobre o mundo
Hoje eu te chamo de careta, Pedro
E você me chama vagabundo...

Todos os caminhos são iguais
O que leva à glória ou à perdição
Há tantos caminhos tantas portas
Mas somente um tem coração...

E eu não tenho nada a te dizer
Mas não me critique como eu sou
Cada um de nós é um universo, Pedro
Onde você vai eu também vou”

Raul Seixas, Meu Amigo Pedro

Um comentário:

Kelli Machado disse...

quem era o engajado???
vc gosta de Raul é? o Luis adora. Uma vez por mês rola um show do Roberto Seixas em SBC
bjos!!!