segunda-feira, outubro 30, 2006

Espelho

"Um dia, enquanto esperava seu cabeleireiro se desocupar, folheava as revista à procura de alguma idéia para mais uma nova mudança.
Encontrou.
Ficou durante um tempo contemplando.
A mulher da fotografia, os cabelos brilhantes na paisagem sem sol da Escócia, olhava distante a relva verde: parecia que o mundo todo estava correto ali.
Não era o cabelo.
O que queria mesmo era estar naquele lugar, com aquele olhar, com aquela roupa.
Queria ser aquela mulher.
Mas percebeu que jamais seria.
Simplesmente porque ela era ela. E porque aquela mulher não existia.
Não era melancolia nem tristeza. Era o desejo de ser ela mesma.
Percebeu que só se encontrava no olhar dos outros.
E que estava, banalmente, condenada a ser ela mesma, a se inventar, espreitando as imagens de outras, que eram irremediavelmente outras".

Vânia Reis, psicoterapeuta. TPM, outubro de 2006.

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